Toda esta lembrança me chegou ontem à noite, através do telefonema de uma tia que vive na aldeia, na casa da avó Laurinha. Foi a Tia Antónia, que ligou, que conheço desde que nasci, amiga das minhas tias, tios, e mãe de amigos meus, todos emigrados pelas Franças, Espanha, e por aí fora, quando nos revemos é uma festa, é festa porque ainda me lembro das nossas brincadeiras de crianças,do tempo em que eu ainda ouvia, do Zé que me chamava India, por ter tranças pretas, ele é um pouco mais velho que eu, da Adelaide que ia brincar comigo, e dos irmãos mais novos, enfim como a minha tia pediu à Tia Antónia para me ligar a fim de que eu, euzinha, não me esquecesse de que ela tinha uma promessa a pagar... e, por mim... Ó balha-me, balha-me Deus, atã ê que nã faço promessas, vou ter que ir pagar uma lá pró S. Bentinho, não o S. Bentinho do Gerês, mas o S. Bentinho lá perto da aldeia, onde os forasteiros são mais que muitos, e andam ali à roda da capelinha, como essa nina pequenita da foto, que por acaso é a Neide, com dois anitos, quando vinhamos cá de férias, e me perguntou o que é que aquela gente anda ali a fazer de tercinho na mão, a pé, de joelhos, e a falarem sozinhos, como ela dizia; sempre à volta, à volta e à volta (da Capela, pois!... e eu respondi que; andam a cumprir promessas, e a eterna pergunta; o que são promessas... olha, quando se afligem com problemas, dores, pedem ao Santinho neste caso o S. Bentinho, e andam ali à volta a rezar para agradecerem e pagarem a promessa! ah, e dali a nada, para espanto meu, ei-la que se mete ali, e anda ela à roda, à roda e a murmurar palavras que nem sei o que seriam, decerto alguma promessa! A foto já tem 23 anos, ela tem presentemente 25.

Mas, voltando à minha tia, só posso dizer que lamento, mas não, não vou cumprir promessas que não prometi, (diz que foi pela minha cabeça, do meningioma) quem as faz que se avenha!... Esta minha tia já a conheço pelas milhentas de promessas que fazia todos os anos, e todas para o mês de Agosto, assim aproveitava o pessoal que vinha de férias e lá ia para os bailaricos, enquanto a minha querida Tia Nanda ficava ali a mofar com tanta gente em casa e tantos que fazeres, eu ficava para a ajudar, ou se fosse, levava-a pois, e depois faziamos tudo... Assim, vai ficar desiludida, mas a minha resposta vai ser mesmo essa! Lamento! mas nem posso sair de casa, tenho aqui a mana dela que por sinal é minha mãe, e, acho que já paguei todas as promessas que fiz na vida, só com os poucos dias que ela está aqui em casa, pois os tercinhos dela já são tantos que posso dizer, são kilos deles, senta-se aqui ao pé de mim, e, quando me apanha o olhar a jeito, lá saem aquelas perguntas que nem se fazem, mas, interrompe a ladainha, pergunta, respondo, e continua, dali a minutos, a mesmíssima coisa, e euzinha perdi a pachorra e perguntei-lhe; ó mãe, mas porque cargas dágua rezas tantos terços? olha-me com aquele olhar onde se sente toda a censura do mundo, e diz já chateada; é pelos nossos mortos minha filha, para que tenham a alma em descanso!... Ó mãe, olha que com tanto terço, os nossos tenham lá feito o que fizeram, já devem estar numa colónia de férias, já sairam do Inferno e de certezinha que já estão no Paraíso... ó mãe, pelo amor de Deus, achas que com o que cada um fez, com as faltas que todos temos e levamos, que com kilos de terços, resolves tudo de uma assentada e, assim rezados com perguntas e interrupções pelo meio? Ó Mãe!...
Promessas, qual promessas! Cada um cumpra as suas, não é a engajar-me e ter de pagar o que nem pedi!...

  Publicado por Laura    08:05