Laura deambulava ao acaso, nem sabia onde andava, os velhos caminhos que costumava percorrer desapareceram dando lugar a uma casinha ladeada com tábuas de madeira branca, baixinhas que qualquer cãozito por menos afoito que fosse, nem duvidaria em transpor. Aquele sentimento de paz a isso induzia.

Olhou em redor sem duvidar que estava mesmo ali naquela cena digna de uma princesinha que existiu em tempos imemoriais. O chão de terra batida, sempre terra, que é o sonho dela, pisar a terra vermelha descalça pela última vez antes de rumar a outros mundos que seja... o sol parecia brilhar de encomenda, já que os dias têm sido chuvosos e frios. E sebes de lindos arbustos, magnólias, salgueiros e chorões estavam como que a convida-la a entrar, lembrou-se que os chorões gostam de viver perto de rios ou onde a água passe lá no fundo e sem preconceitos ou vergonhas, abriu o minúsculo portãozinho, descalçou as sandálias e correu entre o verde relvado, sem saber por onde ia, deixou-se levar, cabelos ao vento e só parou quando viu o brilho das águas limpidas, serenas, e ouviu o canto em murmúrios que o rio entoava, quem sabe a convida-la a sentar-se naquele banco tão de propósito ali colocado!

Tentou beliscar-se mas a verdade é que se sentia num mundo irreal, porque jamais entraria numa casa onde não fosse convidada, e, sem ouvir, quem sabe aparecia algum cão daqueles que nem ladram a avisar... gente surda só se não for inteligente entraria numa casa sem saber se haveria cão ou não!

Olhou em redor e do local onde se encontrava viu a tal da casinha dos seus sonhos, branca, imaculada, janelas baixinhas abertas de par em par, lindos canteiros a ornar cada janela de onde se debruçavam as flores mais mimosas que se podem encontrar quando semeadas pela própria natureza!

Nem esperou um segundo, nem que a convidassem, se alguém aparecesse a desculpa seria logo ali na hora e os seus amigos Anjos lhe segredariam o que havia de dizer...
Entrou pelas traseiras, a cozinha toda ela simples e ao mesmo tempo, elegante, cortinados de chita às flores, as panelas a brilhar, uma cesta com legumes recém colhidos, outra com as mais apetitosas frutas do pomar que observou da janela, pegou numa maçã suculenta, reineta as suas preferidas, e saiu para fora, porque sabia que alguém estaria no jardim... e dali a nada avista a sua rede cor-de-laranja que o Gilinho que enviou do Brasil, a balouçar com alguém, alguém cujo rosto conseguiu descortinar. Continuou a andar, indecisa...

Ah, como dói despertar num mundo que nada tem a ver com a doce sensação que acabava de ter, a sensação que o sonho teria de continuar e de a levar a algum caminho, meio, ou fim!...

Pois é amigos, sonhar dá nisto... é que quando fui operada ao meningioma, tive as mais belas visões durante um dia, foi da morfina, claro, mas o essencial é que ainda lembro, e apraz-me guardar na minha alma as suaves visões fizeram parte de mim um dia!

Tenham um Bom Domingo.

laura

  Publicado por Laura    11:05