Já não voltava á Instituição onde acolhem portadores de doenças mentais há mais de três anos! Ia levar uma amiga querida que tem lá um filho internado. Ele tinha e tem dias! nunca foi muito de ser amável e de vez em quando nem a mãe reconhecia, tratava-a mal e às amigas dela, era capaz de chegar e voltar novamente lá para dentro e não queria ver ninguém... a mim não, se fosse um dia não, ficava calado, olhava-me sem mostrar raiva ou o que fosse, impenetrável... chamava-me de D. Laura e tinha uns momentos de lucidez a falar comigo e até sobre os Reis, ah, nem acredito mas dizia a data de Batalhas e muitas coisas mais. Que triste fardo ter um filho nessas condições, mas, a vida é que é senhora das nossas vidas! já vive ali há mais de 30 anos.
Entretanto a vida foi espaçando as vistas e ia com uma sobrinha para não me dar trabalho como ela dizia... Calhou em conversa falarmos disso, disse que queria ir com ela, levava o manel ao trabalho e ficava com o carro, até ás 17 tinhamos tempo de sobra. Assim foi.

Claro que quando vou lá peço sempre aos meus queridos Anjos, Amigos do Alto para que ele esteja calmo e a mãe possa viver aqueles momentos em serenidade! sei que sou ouvida, sei que sim. Aproximamo-nos e estava ele agachado na entrada a fumar os cigarritos que apaga com as mãos, já tem os dedos queimados... Olha-me, o seu sorriso abre-se e diz; olá Laurinha, veio dar-me um beijinho? (há mais de 3 anos que não nos viamos...) ehh esperava calmaria da sua parte, não tanta, nem pensei que me reconhecesse, antes tinha os cabelos curtissimos e agora estão compridos, a mãe ficou marejada de lágrimas, admirada e enquanto eu lhe dava o beijinho de parabéns disse que não fazia tanto ano, só fazia 21...
Fomos para dentro, tem lá um lindo espaço com mesas, cadeiras azuis, muita luz e amplo. A mãe estendeu a toalhinha e pôs os costumeiros mimos, queijinho, sandes boas, fruta bolo, sumo, tudo, até nós petiscamos, e não é que aquela alma mal via um amigo colega de infortúnio passar, chamava-o para dar algo da mesa e se o outro se ia envergonhado, corria atrás dele a dar o pão de ló o que fosse, cigarros... nisto aproximaram-se mais dois, um Indiano, a face tinha o seu quê de dantesco, mas, a ternura em pessoa, ficaram ali junto de nós, em pé, comeram as uvas o que foi e o Indiano, mete a mão ao bolso tira de lá o lenço dobra-o em três pontas, enrola nos polegares, dá uns jeitos e ata um nó que desata logo a seguir ah, o que me ri, pedi para repetir, acabou, desatei a aplaudir, eles seguiram-me todos... foi um rir emocionado, um rir feliz pelo momento vivido, pedi bis e pedi que me ensinasse e? ensinou com paciência de Job, ainda não sei, aquilo que ele faz com tanta rapidez, eu, nem devagar... imaginam todos a fazer barulho nos aplausos? vieram os senhores que tomam conta e ficaram a olhar e a rir lá de cima dos degraus... (talvez pensassem, estas também devem ser internas, enfim... mas que brilho no seu olhar, que gratidão por um pouco de atenção, o outro muito sério ria de vez em quando, fez mais magia, mais palmas mais amor, foi lindo, fiquei encantada, amei aqueles momentos, valeram por horas de amor, amor extra, daquele que se sente na alma e Nosso Senhor abençoa! e pelos vistos o moço teve palmas do dia do seu aniversário, espectáculo de magia com o ilusionista, ah, quando pensei lembrei que; as festas de anos acontecem sem serem programadas...

  Publicado por Laura    08:06