A minha Poesia em pps
Formatado por Zélia Nicolodi, Vitor Campos e Estrelinha d'Alva
(clicar na Imagem)

















Quero Alguém


O meu tecer de Esperanças!...


Já escalei a minha montanha!...


Amar-te-ei Sempre!...


Não te vás nunca!...


Não foi o ocaso


segunda-feira, fevereiro 08, 2010

 

Luz na Madrugada (Eurícledes Formiga)


Osvaldo, como prometi, aí vai o poema do Leandro Gomes de Barros o maior Poeta do Brasil!... dos tempos que já lá vão! e há quem pense que o Olavo Bilac era o maior, mas, pelos vistos, não é!

Em tempos deu-me para comprar um livrito de poesia Espiritual, comecei a ler e vi que tinha Poesias de Poetas Brasileiros, e começava com uma, escrita sob mediunidade, (recebida pelo autor do Livro, Eurícledes Formiga) - Poeta e jornalista, formado em Direito, nasceu no Estado de Paraíba e reside em S. Paulo, onde exerce função pública federal!
(isto quando o livro foi publicado, não sei se ainda é vivo, acho que não)

Formiga, este nosso livro
Que leio de alma encantada,
Parece a luz quando brilha
No escuro da madrugada.

Todo volume revela
A fé pura e destemida
Do poeta sob a mão
Dos poetas de Outra Vida.

É um poema de poemas,
Mediunidade em ação
Você e os nossos amigos
Combinam-se como são.

Poeta e médium, você
Demonstra aos outros consigo
Que nem tudo se perdeu
Das bençãos do mundo antigo.

Para ver o seu trabalho
De muito longe me movo,
Porquanto, desde algum tempo,
Não entendo o mundo novo.

Muitas mudanças registro:
Muito sim agora é não,
Muito não agora é sim,
Mas a terra é o mesmo chão.

Há quem diga que o progresso
Nasce por força de lei,
Mas se a vida está melhor,
Sinceramente, não sei.

Fosse no engenho ou no eito,
Ia a gente devagar,
A sanfona, abrindo ao peito,
Fazia o mundo cantar.

Hoje o que vejo na terra
É a fofoca loroteira,
O cobre passando longe
E o povo na corredeira.

Nossas frutas de mercado,
transbordando das panelas,
Perderam feitio e gosto,
O adubo acabou com elas.

De muitas me lembro ainda...
Pitanga jeremataia,
Araçá e murici
E o coco em fila na praia.

Agora, em vez da roseta,
Da ata e da melancia,
Tome fruta embalsamada
Nos vasos de lataria.

Mulher vestia-se toda...
Hoje em dia, não entendo;
A barra da saia sobe
E o decote vem descendo.

Crianças antigamente
Viviam de escola e casa,
Mas hoje qualquer fedelho
Parece espeto na brasa.

O jornal que o povo lia
Era notícia na rua,
Hoje a metade d aimprensa
É potoca e gente nua.

O antigo carro de bois
Mais seguro do que o trem,
Andava devagarinho
E não feria a ninguém.

O burro aguentava cargas
Além de cangalha e sela,
Mas não mostrava o perigo
de caminhão na banguela.

Dizem que tudo é progresso
Entre as máquinas em bando,
Que a vida hoje é mais nobre
Mas eu fico duvidando.

Por isso, este nosso livro
Tão seu e nosso no ar
Parece jesus de volta
Rogando à gente pensar.

Formiga, dê-nos a mão
Auxiliar é dever,
O mundo pede instrução
deixe este livro correr.

Leandro Gomes de Barros

(Mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier, em reunião da noite de 2 de dezembro de 1978, em Uberaba, M.G.)

Nota do Livro; "Leandro Gomes de Barros não foi apenas o primeiro, foi o maior de todos os poetas populares do Brasil"
É o que se lê em " Literatura Popular em verso" publicação do Ministério da educação e Cultura, Fundação Casa de Rui Barbosa e Fundação Universidade Regional do Nordeste, edição de 1976.
"Leandro Gomes de Barros nasceu na Fazenda Melancia, em Pombal, Paraíba, a 19 de Novembro de 1865, e faleceu no Recife a 4 de março de 1918"

Carlos Drummond de Andrade, na sua crónica Leandro, o Poeta, Publicada no jornal do Brasil de 9 de Setembro de 1976, acentua:
- " Em 1913, certamente mal informados, 39 escritores, num total de 173 elegeram por maioria relativa Olavo Bilac príncipe dos poetas brasileiros. Atribuo o resultado a má informação porque o título a ser concedido, só podia caber a Leandro Gomes de Barros, nome desconhecido no Rio de janeiro, local da eleição promovida pela revista Fon-Fon!, mas vastamente popular no Norte do país onde suas obras alcançaram divulgação jamais sonhada pelo autor do "Ouvir Estrelas" . (...) E aqui desfaço a perplexidade que algum leitor não familiarizado com o assunto estará sentindo ao ver defrontados os nomes de Olavo Bilac e Leandro Gomes de Barros. Um é poeta erudito, produto de cultura urbana e burguesia média; o outro, planta sertaneja vicejando à margem do cangaço, da seca e da pobreza. Aquele tinha livros admirados nas rodas sociais, e os salões o recebiam com flores. Este espalhava seus versos em folhetos de cordel, de papel ordinário, com xilogravuras toscas, vendidos nas feiras a um público de alpercatas ou de pé no chão."

E continua Drummond mostrando o alcance dessa literatura singular, que pela sua penetração, representa significativa parcela do nosso património cultural:

"A poesia parnasiana de Bilac, bela e suntuosa, correspondia a uma zona limitada de bem estar social, bebia inspiração européia e, mesmo quando se debruçava sobre temas brasileiros, só era captada pela elite que comandava o sistema de poder político, económico e mundano. A de Leandro, pobre de ritmos isenta de lavores musicais, sem apoio livresco, era a que tocava milhares de brasileiros humildes, ainda mais simples que o poeta, e necessitados de ver convertida e sublimada em canto a mesquinharia da vida. (...)"


E concluo:
- "Não foi príncipe do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro".

E como diz o Leandro; deixe este livro correr, aqui vai um poema apenas, mas, lindo, que muitos hão-de ler, querido e amado Poeta Leandro!...





Comments:
Laurinha, confesso que nunca ouvi falar de Leandro Gomes de Barros. Nasci e vivo até hoje no nordeste do Brasil, onde a cultura do cordel é muito divulgada.Até onde conheço, o maior poeta popular do nordeste, é o Patativa do Assaré, homenageado pela Universidade de Sorbone, com o título de Doutor Honoris Causa. Homem de poucas letras, era autodidata, o cantor Fagner gravou as Músicas Vaca Preta e Boi Fubá e Luiz Gonzaga gravou triste partida, músicas com letras de autoria de Patativa do Assaré. Veja estes versos de sua autoria e tire suas conclusões.

SAUDADE (Patativa do Assaré)



Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.


Gilinho
Veja mais sobre Patativa do Assaré, clicando no enedereço abaixo: http://www.amoreamor.com/autor.php?id=4&a=Patativa+do+Assare



 
Gilinho, até aquela data que tem no post, era o Leandro Gomes de barros, eu tenho o livro, Luz na Madrugada de Eurícledes Formiga! Como o Osvaldo falou nele, lembrei-me e era realmente quem eu pensava.

Gostei dessa poesia, há por aí muito poeta lindo, muita forma de escrever, maravilhoso, amei..vou espreitar o site..ji d laura.



 
Gilinho fui ao site e, realmente, o homem escreve lindo..aqui está uma delas..


Vaca Estrela e boi Fubá (Patativa do Assaré)

Seu doutor me dê licença pra minha história contar.
Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom e gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do curral.

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,
Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá
Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá
Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá
Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.



 
Confesso que desconhecia por completo estes poetas brasileiros.
Beijinhos



 
Montana e eu ainda desconheço muitos dos nossos, falta de ler, ora pois, mas agora com o pc, eu ler? só se for na caminha de longe a longe...beijinhos mil, laura



 
Não encontrava este poema dele e pedi ao Gilinho, mandou agora e copio para aqui...


A triste partida (Patativa do Assaré)

Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.

Rompeu-se o Natá, porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! ta tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.

Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo mau burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.

Nòs vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.

E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.

Em riba do carro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.

O carro já corre no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!

No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado, falando saudoso,
Um fio choroso
Escrama, a dizê:

- De pena e sodade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!

E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé fulô!
Meu pé de rosêra, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.

E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.

Chegaro em São Paulo - sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferante
Do caro torrão.

Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode, só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.

Se arguma notícia das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.

Do mundo afastado, sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!

Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su.



 
Caro amigo Gilberto;

Todas as minhas desculpas por ter omitido na pequena lista de grandes poetas Nordestino o seu Antônio Gonçalves da Silva mais conhecido como Patativa do Assaré, grande poeta e impulsionador da cultura de cordel. Quando citei os nomes de alguns Grandes Sertanejos que divulgaram esta literatura única, apenas quiz dar um exemplo figurativo da importância desta cultura nas tradições brasileiras e claro que se fosse citar todos os grandes, nem dez blogs da Laura seriam suficientes para citar apenas os nomes. Estou de acordo com a importância de Patativa do Assaré na poesia de cordel mas mantenho a minha opinião do Grande Mestre que foi Leandro Gomes de Barros o maior poeta da cultura de cordel. Muitos dos poetas que citei e muitos outros poderia citar e inclusive Patativa do Assaré foram influenciados pela poesia de Leandro Barros nascido no século anterior (segunda metade do século XIX). Aliás esta minha opinião foi também dividida pelo meu professor (acredite que foi) o Grande Professor, Jornalista, Poeta e Escritor Carlos Drummond de Andrade.

Um grande abraço, amigo Gilberto e parabéns por tão bem defender um dos ramos mais importantes da cultura do Brasil que é a poesia de cordel bem vincada nas gentes nordestinas até ao profundo Sertão.

Não há ó gente oh não! / Luar como esse do Sertão!...

Um abraço, Gilberto.
Osvaldo



 
Laurinha
Um beijinho cheio de poesia!



 
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